quarta-feira, 15 de junho de 2011

Não é um caso de amor

Enlaçava os braços ao redor dele. Os cabelos muito pretos, lisos, escorriam pelo peito. Estava olhando o teto e se lembrando da última parte que leu do livro Travessuras da menina má. Olhou pra ele e ele também olhava o teto. Esse era um momento que poderia definir com exatidão a concepção que ela tinha sobre languidez. Brincava com os pelos do peito dele, alguns ruivos. A boca doía um pouco por causa das mordidas sofridas. O cheiro dele ainda em sua mão. Pensava muito sobre nada. A cabeça ocupada por um esvaziamento, se é que o vazio ocupa alguma coisa. Certamente, a física quântica diria que sim. Enfim, nada interessava. Aconchegou novamente a cabeça no peito dele. Automaticamente ele começou a passar a mão em seus cabelos, levantava e depois deixava que o próprio peso os fizesse cair. Mordeu o ombro de leve. Dormiram sem perceber. Ela acordaria ainda tendo o cheiro do corpo dele em sua mão.




Música: Dr. Feelgood - Aretha Franklin (recomenda-se ler ouvindo a música)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O amor não precisa de pretextos

Ontem foi o dia dos namorados. É uma data legal. Quem namora ganha presente, se individa, fica na frente de restaurantes por horas, lingeries são tiradas dos estoques. O "amor está no ar", é a previsão de tempo.

Eu achava bem legal... bom, de certa forma ainda acho. Mas eu acho mesmo que o amor não precisa de pretextos. Ele não precisa de um post-it na geladeira te lembrando: dia de dizer eu te amo. Não, não precisa.

O amor entre amantes dispensa formalidades. Ele não precisa de uma meia 7/8 pra dar um up. Ele não quer o perfume da temporada. Eu escolho esse e você aquele e assim nos provamos nosso amor.

O amor não sabe nada de créditos e parcelamento. O amor não aceita farsa. Ele sabe dar um sorriso amarelo quando recebe um presente dizendo que ama, mas nos outros 364 dias a mensagem é “nem tanto assim”. O amor não gosta de esmola, nem mesmo a embrulhada em papel colorido e laço de cetim.

O amor não aceita barganha, relacionamentos sim.

Não há nada mais deprimente que presentes que cobrem lacunas. “A falta que você me faz pode ser suprimida por cifras”, é isso?

O domingo dos Dia dos Namorados pode ser um conto de fadas, mas na segunda-feira a leitura do dia é a prosa do Bukowski.